Aprovechando la traducción del artículo realizada por Cuba Soberana, reposteo el texto en brasilero…
Maus tempos para a poesia lírica. Depois da rendição incondicional da social-democracia e de muitos partidos que se diziam comunistas ao capitalismo; depois da renúncia à prática de uma democracia com padrões mínimos de qualidade que lhe permitissem ser digna desse nome, foi a vez dos movimentos sociais «alternativos» e de muitas ONGs outrora transformadoras. Não se trata de factos isolados, mas sim concatenados.
Muitas organizações da sociedade civil em Espanha (ecologistas, pacifistas, feministas, internacionalistas…) foram controladas de forma mais ou menos planeada por um desembarque de indivíduos pertencentes ao Trostkismo mais sistémico após a dissolução das suas organizações nos anos noventa. A deriva para a aceitação acrítica das bases fundamentais do status quo foi mais do que servida. O fosso que agora se abre entre as fileiras dos transformadores e revolucionários e aquelas a que é difícil chamar reformistas está a aumentar cada vez mais. Só o espírito inclusivo da confluência táctica nas trincheiras, nas ruas e nas barricadas, em certos momentos, permite algum trabalho comum, de vez em quando, sob alguns princípios mínimos partilhados, sobre os quais não vale a pena arranhar demasiado, para que não venham ao de cima divergências insuperáveis.
Um dos mais recentes pontos de fricção tem a ver com a crítica às organizações de resistência palestinianas e libanesas e a sua consideração como grupos terroristas por algumas facções sob a égide do pacifismo. Para além do desrespeito pelo direito internacional por parte dos seus defensores, o que é pior e mais grave é a aceitação intrínseca do discurso das elites imperialistas ocidentais e da NATO, uma vez que só os donos dos países da NATO mantêm uma narrativa semelhante.
Porque o pacifismo burguês é, na sua essência, uma ideologia que procura manter o status quo das classes dominantes sob a fachada de um desejo de paz global, mas é pouco mais do que um pretexto usado pelas elites para desarmar qualquer luta revolucionária que desafie a estrutura de poder, fazendo com que aqueles que sofrem opressão se resignem à sua situação em nome de uma falsa moralidade. O pacifismo é apresentado beatificamente como uma postura eticamente inquestionável, mas na realidade ignora o facto de que a paz sem justiça conduz à perpetuação da violência estrutural. Enquanto as classes abastadas podem dar-se ao luxo de adoptar posturas não violentas, os sectores mais oprimidos não têm essa opção. Para os povos expulsos das suas terras ancestrais, os trabalhadores explorados, os camponeses sem posses, as comunidades marginalizadas… a luta é uma necessidade vital, não uma escolha moral, resistir é existir. Perante a ocupação colonial, violenta e assassina; perante o abandono das potências mundiais, não há outra alternativa senão resistir por todos os meios possíveis, incluindo a tão criticada luta armada.
Este pacifismo desclassificado e messiânico tenta também evangelizar, moralizar as massas, acusando-as de serem «violentas» se recorrerem à auto-defesa ou à insurreição, ao mesmo tempo que ignora ou minimiza a violência sistémica do capitalismo que gera a pobreza, a fome e a guerra. É uma ideologia hipócrita que justifica a sua inacção e passividade perante a exploração, ao mesmo tempo que condena as formas de resistência activa que são necessárias para mudar as condições materiais de vida. Em suma, o pacifismo burguês é um instrumento de desactivação da consciência de classe, fazendo crer aos oprimidos que a submissão é uma virtude. Ao criticar a resistência, o pacifismo burguês perpetua o ciclo de dominação e desigualdade, defendendo – mesmo que os seus defensores não o reconheçam – os interesses das classes poderosas sob a retórica da não-violência. Onde estavam os pacifistas do Dombass enquanto a Ucrânia e os EUA massacravam impunemente a sua população? São apenas zombies que olham para onde a NATO os aponta.
A sua palavra de ordem preferida é resiliência, uma noção que, tal como o pacifismo mal compreendido, mascara a submissão sob uma capa de virtude, de resignação disfarçada de fortaleza. A resiliência, hoje exaltada nos discursos políticos, empresariais, psicológicos e mediáticos, é apresentada como a capacidade do indivíduo de se adaptar e resistir perante a adversidade, mas na realidade é um novo ópio, mais um, para as massas, um instrumento ideológico que leva os oprimidos a suportar pacientemente as condições de exploração e precariedade sem as questionar. Tem exactamente o mesmo efeito alienante que a promessa religiosa da vida eterna. A resiliência, tal como o pacifismo burguês, transfere a responsabilidade pelo sofrimento social para os indivíduos. Elogia a capacidade de «aguentar» ou «sobreviver» perante as dificuldades, como se a adversidade, o vale de lágrimas, fosse uma condição inevitável e permanente, e como se a resistência passiva fosse a única resposta possível. Este discurso não só desvia a atenção das causas estruturais das crises, da exploração e da desigualdade, como também perpetua a ideia de que as soluções se encontram ao nível pessoal e não na acção colectiva e na transformação radical do sistema.

Face a este discurso hegemónico, é essencial recuperar a resistência activa e a organização colectiva. Não basta «resistir» à opressão; é preciso confrontá-la e transformá-la. A verdadeira força não está em resistir sem protestar, mas em reconhecer as causas estruturais do sofrimento e organizar-se para as combater, se necessário com violência, como reconhecem as Nações Unidas e o direito internacional. São os povos que, na sua soberania, devem decidir os tempos e os métodos das suas lutas emancipatórias. É por isso que não pode haver «mas» contra a resistência palestiniana, libanesa, iemenita, síria, iraniana ou iraquiana. Nós, internacionalistas, só podemos cerrar fileiras, tirar o chapéu e colocarmo-nos modestamente ao serviço.
Se ser pacifista é ser partidário da paz, este escritor é-o plenamente e sempre o foi. Mas não um partidário da paz injusta, nem da paz dos cemitérios, nem da paz dos oprimidos submissos… Poderia mesmo dizer que, durante algum tempo, fui irenista, pelo que conheço o terreno em primeira mão. Gandhi é considerado um ícone da rejeição absoluta da violência, tanto a nível pessoal e religioso como a nível político. Foi um dos principais defensores da ahimsa, um princípio ético de não-violência derivado da tradição religiosa hindu.
Para Gandhi, a não-violência não era apenas uma táctica política, mas um modo de vida e um princípio moral inabalável que deveria guiar todas as acções humanas. Mas apesar da sua posição firme, Gandhi reconhecia que, em certos casos, a violência é preferível à cobardia. Considerava a cobardia – a incapacidade de enfrentar a injustiça por medo do opressor – pior do que a violência, uma vez que esta implica a renúncia à dignidade pessoal.
Os palestinianos tentaram tudo durante mais de 75 anos de ocupação: greves políticas, jejuns, não colaboração com o ocupante, desobediência civil, manifestações, marchas, resistência passiva, negociações… No entanto, vimos prisioneiros morrerem em greve de fome, vimos marchas pacíficas de regresso a Gaza serem massacradas. Os franco-atiradores sionistas disparam à vontade contra enfermeiros, jornalistas ou manifestantes desarmados, sem que a condenação internacional, as sanções ou a morte de inocentes façam manchete. A não-violência como estratégia tem os seus limites, especialmente nestes tempos de controlo social brutal e com tantos inimigos.
A não-violência requer necessariamente uma grande visibilidade social para ser útil. Ao contrário da violência, que muitas vezes é visível por si só e tem um impacto imediato, as acções não violentas não geram o mesmo tipo de atenção. Para que estas tácticas tenham um efeito transformador, têm de ser vistas pelo público em geral, caso contrário podem ser ignoradas, subestimadas ou manipuladas pelas autoridades ou por uma sociedade mediatizada ou polarizada. Sem os meios de comunicação social do lado revolucionário, as acções não violentas correm o risco de passar despercebidas ou de serem minimizadas. A eficácia da não-violência reside em grande parte na sua capacidade de chocar a consciência pública e de pôr em evidência a injustiça do sistema opressivo. Quando são cometidos actos de repressão contra manifestantes pacíficos, os meios de comunicação social têm o poder de expor esta violência desproporcionada, o que gera simpatia, empatia e apoio à causa não-violenta. Mas sem uma plataforma para amplificar estas imagens e narrativas, a repressão pode continuar sem consequências sociais ou políticas significativas. Para piorar a situação, os governos e as elites dominantes controlam os principais meios de comunicação social e podem facilmente manipular ou distorcer a percepção pública de um movimento não violento. Sem acesso a meios de comunicação independentes, a versão oficial pode esmagar um movimento não violento, rotulando-o à vontade como radical, ilegal ou mesmo violento. Todos nós, que estivemos atrás de bandeiras ou barricadas durante anos, passámos por isso em numerosas ocasiões.
A não-violência, embora útil e poderosa em muitos contextos, também enfrenta sérias limitações quando confrontada com um inimigo amoral e assassino como o regime sionazi israelita, um adversário que não tem escrúpulos em usar a força letal e que não está sujeito a constrangimentos morais, legais ou éticos. A não-violência assenta, em grande parte, na capacidade de apelar à consciência moral do opressor ou do público em geral, procurando provocar uma reacção de empatia, culpa ou compaixão pelo sofrimento das vítimas. No entanto, um inimigo que não reconheça estes princípios éticos ou que não responda à condenação pública não é afectado por estas tácticas. Um regime ou força brutal que não tenha remorsos pode continuar a reprimir sem ser movido ou travado por acções pacíficas. Se mais de 80% da população das terras coloniais de Israel aprova o massacre de crianças como táctica militar, quem pode deter Netanyahu e o seu bando genocida? Indiscutivelmente, só as Nações Unidas e o Conselho de Segurança, mas o poder de veto dos EUA impede condenações que forçariam a aplicação das resoluções, pelo que, na prática, estas nunca serão implementadas. Sem receio de repercussões legais, sanções internacionais ou pressões políticas, um regime pode simplesmente eliminar permanentemente manifestantes ou uma população indefesa sem enfrentar consequências. É o que está a acontecer na Ásia Ocidental.
Acredite-se ou não, onde as técnicas de não-violência e de Defesa Popular Não-Violenta estão a ter êxito é no campo contrarrevolucionário. Nos últimos anos, têm sido utilizadas sobretudo para organizar revoltas pró-EUA. Sim, revoluções coloridas, Primaveras Árabes e coisas do género. É o caso do Instituto Albert Einstein, gerido e financiado pela CIA. Um triste fim para um ideal de origem puramente anti-colonial.
Em suma, negar o direito ou a legitimidade da resistência equivale a condenar o povo palestiniano ao seu desaparecimento total. Felizmente, no seio do movimento de solidariedade com a Palestina, os pacifistas burgueses são uma minoria cada vez mais reduzida. A pretensa superioridade moral do pacifismo é pouco mais do que uma «patologia liberal» – como lhe chamaram -, é a aceitação tácita da derrota política, o que, no caso vertente, equivale a tornar-se cúmplice de facto de Israel, dos Estados Unidos e da NATO. Que olhem bem para si próprios.